
A filósofa Marilena Chauí, professora da Universidade de São Paulo (USP), revelou que fica “muito agoniada” quando um motorista de aplicativo diz “fica com Deus”. Para Chauí, a frase indica que ele “é pentecostalista e fundamentalista”. As declarações foram dadas durante uma palestra, que ocorreu no 5º Encontro de Pós-Graduação em Filosofia da USP, em 13 de agosto. Duas análises sobre o ocorrido foram publicadas pelo site O Antagonista, neste domingo (1º).
– Fico muito agoniada: tomo o Uber e na hora que eu desço e digo “muito obrigada, boa noite”, o motorista diz: “fica com Deus”. Eu sei que ele é pentecostal, que é fundamentalista. Eu fico desesperada com essa ideia.
Chauí escreveu sobre a Patrística, que estuda escritos dos chamados pais da Igreja. Um livro dela foi publicado pela Companhia das Letras e ganhou prêmios. A divulgação da obra ocorreu durante a palestra na qual ela debochou dos cristãos, em particular, dos evangélicos.
Em 2012, ela afirmou que “Quando Lula fala, o mundo se ilumina”. Ela também é conhecida pela frase “Eu odeio a classe média”.
Chauí argumenta que esse tipo de expressão é uma manifestação do predomínio das religiões pentecostais, que ela considera fundamentalistas. A frase aparentemente inofensiva “Fica com Deus” se torna, para ela, um símbolo do avanço dessa mentalidade em espaços públicos e privados.
Para além do incômodo pessoal, Chauí levanta um debate sobre a separação entre Estado e religião, questionando se o uso comum de expressões religiosas não infringe essa divisão. Segundo a filósofa, expressar desejos religiosos em interações triviais pode forçar uma confrontação de valores.